quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Segundo ao quinto dia após a cirurgia - o raio-x antes e o depois

Nos dias seguintes à operação, o progresso foi notório. Nos primeiros dois dias estava bastante mais dorida e sentia-me muito mais "pregada à cama". Estava algaliada ainda e, por isso, não me levantava nunca, nem para ir à casa de banho. 
Fui recebendo visitas o que era ótimo para me distrair e para não me deixar adormecer durante o dia. A minha mãe passou todos os dias comigo, apesar de ainda vivermos longe do hospital. 

Passados esses dois dias, já comecei a levantar-me. As enfermeiras ajudavam-me no banho (já tomava sentada no duche mesmo) e quando precisava de ir à casa de banho (tiraram-me a algália quando tomei banho pela primeira vez e a partir daí pedia sempre para ir à casa de banho e as enfermeiras ajudavam-me. Não queria ter de fazer na arrastadeira e por isso, foi um alívio saber que não precisava).



Um enfermeiro ajudou-me, numa dessas noites, a virar-me sozinha durante a noite, agarrando-me aos ferros laterais da cama e virando-me com cuidado. Foi um alívio saber que conseguia fazê-lo sozinha, porque a cada dia sentia que estava um pouquinho mais independente. Depois dessa noite dormi muito melhor porque me virava quando queria e estava muito mais confortável.

As enfermeiras mudaram-me o penso e, curiosa como sou, pedi que me tirassem uma fotografia à costura. Espero que não vos faça muita impressão - a  mim não fez porque não me doía nada nada. Foram 57 agrafos muito bem agrafadinhos.



A fisioterapeuta também me visitava de vez em quando para fazer uns exercícios simples de respiração.



Na segunda feira sentia-me muito melhor e disse às enfermeiras que estava ansiosa por ir para casa. Sentia que tudo o que fazia ali conseguia fazer em casa, com a ajuda da minha mãe. As enfermeiras falaram com o médico e ele disse que queria que fizesse o primeiro raio-x após a cirurgia e que teria então alta no dia seguinte. 
Fiz o raio-x e pedi logo se me podiam dar uma cópia (estava ansiosa por fazer a comparação). 
Este foi o post que publiquei nesse dia:



O primeiro dia após a cirurgia - visitas e mimos

Como já escrevi no post anterior, no dia da operação não voltei ao quarto do hospital, passei a tarde e a noite de quarta-feira no recobro. Só na quinta-feira de manhã é que me levaram para o quarto.
Estava dorida mas medicada, por isso as dores eram suportáveis e estava ainda bastante cansada, pelo que ia adormecendo aos poucos durante o dia. 
Recebi a visita da minha mãe, da minha avó e do meu namorado. Ao final da tarde a minha melhor amiga apareceu de surpresa. Tinha combinado com a minha mãe para não me dizerem nada. À noite recebi ainda a visita do meu pai. Foi bom vê-los a todos. 

Tinha a cara ainda bastante inchada e o meu braço esquerdo estava muito dormente e sem forças (não reagia como o outro). Acabei por me queixar ao médico, que me tranquilizou, dizendo que não podia ser nenhum problema da operação (porque no meu caso, se alguma coisa pudesse ser afetada seria na parte inferior do corpo e as minhas pernas estavam ótimas!), mas que poderia ter sido da posição em que tinha estado durante todas as horas da cirurgia.

Só podia ter visitas até às 20h, por isso depois dessa hora era quando o tempo parecia demorar mais a passar. Mas nesse primeiro dia no quarto, as enfermeiras ainda me lavaram com umas toalhas. Ainda que tenha sido apenas na cama, soube bem e acabei por me sentir mais fresca. Podia estar deitada de costas e de lado, mas precisava da ajuda dos enfermeiros para mudar de posição. Nessa noite dormi mal porque tinha dormitado também durante o dia e porque a luz do corredor me incomodava.

sábado, 11 de fevereiro de 2017

O dia da cirurgia - anestesia, recobro e primeiras impressões

No dia da cirurgia fui acordada pelas enfermeiras. Estava a dormir ferrada. Nem tive muito tempo para pensar. Pediram-me para ir tomar banho e para vestir uma bata descartável aberta atrás e umas cuecas muito giras do mesmo material. Depois tive ainda de calçar umas meias altas brancas que achei super sexys (o meu sentido de humor estava em alta nesse dia, talvez dos nervos). 


Fui levada na cama onde dormi pelos corredores do hospital até ao bloco operatório. Lá a enfermeira falou com a anestesista (até sobre o facto de estar a pingar um bocadinho do nariz, mas isso não pareceu ser tão preocupante como pensava). A anestesista, super querida, que pediu-me para passar para outra cama e foi explicando tudo o que iam fazer antes de me por a dormir. Disse que me iam virar de barriga para baixo numa espécie de mesa/cama e que me iam algaliar (para urinar inconscientemente, no fundo), mas que já não ia sentir nada porque ia estar a dormir. Tranquilizou-me que não iam sair dali em momento algum e que ia estar sempre acompanhada e disse-me para pensar em coisas boas. Não vi o médico sequer e adormeci. Eram 8h. 

Às 14h acordei no recobro. Achei que não tinha passado nem um minuto e achava que ainda não tinha sido operada por isso fiquei assustada. Lembro-me de dizer entre dentes à enfermeira "tem de me dar mais anestesia que assim eu vou sentir tudo" mas nem sei se ela percebeu. Não sentia bem o braço esquerdo e andava à procura dele com a outra mão onde ele não estava apoiado sequer. Sentia-me zonza e como se tivesse sido pregada à cama. A minha mãe conseguiu entrar no recobro (por volta das cinco da tarde) e lembro-me de falar com ela. Ela diz que a minha cara estava irreconhecível, inchadíssima por ter estado com a cabeça naquele buraco da maca durante tantas horas. 
Nessa noite dormi no recobro, os médicos foram atenciosos e quando os chamava com dores davam-me mais medicação. Não foi fácil essa noite... mas foi só uma noite! 

O último dia com a coluna torta - chegada ao hospital e preparação para a cirurgia

A operação ficou marcada para dia 1 de Fevereiro e tinha de estar no hospital no dia anterior às 15h. Na semana anterior à cirurgia comecei a sentir dor de garganta e estava preocupadíssima porque podia não ser aprovada para levar a anestesia geral se estivesse constipada. Tomei medicação leve para as constipações mas parei uns dias antes de ir para o hospital porque tinha receio que interferisse em algo com a operação. 
Preparei a mala para levar com tudo o que me tinham dito e mais algumas coisas que achei que me iam fazer falta (levei produtos de higiene, pijamas, roupa interior confortável, telemóvel e carregador e o router portátil para ter internet).


No dia em que cheguei ao hospital não fiz quase nada, tomei banho, vesti o meu pijama, fiz um clister para limpar o intestino antes da operação, tiraram-me uma amostra de sangue e pediram-me uma amostra de urina também e comi as refeições leves que me deram (a partir da meia noite não pude comer nem beber mais nada para estar em jejum na altura da cirurgia). 
Fiquei num quarto partilhado com mais cinco senhoras e tive de me entreter com o telemóvel nessa noite. Não estava extraordinariamente nervosa. Confesso que estava mais nervosa por causa da constipação, com receio que não me operassem do que com a cirurgia em si. Estranho!



Ser ou não ser operada à coluna - o dilema

Depois de desistir de usar o colete de Boston (falei disso no post anterior), a minha escoliose continuou a piorar e quando a curvatura chegou aos 45 graus (que, pelo que sei, é o mínimo para sermos candidatos a cirurgia) comecei a pesquisar tudo tudo sobre a operação à coluna.
Como qualquer operação mais invasiva, sabia que a recuperação de uma cirurgia a escoliose não ia ser pêra doce. Pelo que ia lendo, eram longos meses de recuperação. Numa cirurgia à coluna existem mais riscos do que numa operação ao joelho (óbvio!). Os nervos da coluna vertebral estão ligados ao cérebro e, antigamente, esta era uma cirurgia de elevado risco, resultando em casos de paralisação dos membros, etc. Era disto que a minha mãe tinha medo e acho que foi por isto que demorei tantos anos a decidir se ia ou não ser operada. Mas os médicos explicavam que hoje em dia as cirurgias são altamente monitorizadas e que o risco de algo correr mal é mínimo: a medicina está super avançada e só tínhamos de depositar confiança nos médicos.
Aquilo de que eu tinha receio no final: na operação iam endireitar-me as vértebras e fixá-las com duas varas e vários pinos, por isso essa zona da coluna ia passar a ser imóvel. Supostamente, quanto mais abaixo fossem colocados os pinos, mais mobilidade poderia perder. Era disso que tinha receio, de não conseguir fazer a minha vida normal e movimentar-me com a mesma destreza que antes.
Aos 18 anos, com 51 graus de curvatura, comecei a ser seguida pelo médico que me operou, Dr. Estanqueiro Guarda, e deveria ser operada num curto espaço de tempo, mas as coisas atrasaram-se (burocracias e questões sobre o nosso serviço de saúde não são para aqui chamadas) e acabei por só ser operada com 20 anos e já com mais de 60 graus de curvatura.
Enquanto esperava, cheguei até a visitar outro médico que me tranquilizou em relação à operação e que me encorajou ainda mais de que esta era mesmo a melhor decisão. Afinal, eu tinha já muitas dores (musculares e até já uma ligeira atrofia de alguns órgãos, derivado à curvatura). Esse médico disse-me até que a minha vida nunca seria de qualidade se continuasse assim (a minha escoliose piorava de ano para ano). Segundo o médico, poderia ser um risco para mim se engravidasse com a coluna no estado em que estava e era muito provável que deixasse de andar quando fosse mais velha.
Estava decidido, eu ia passar por toda a cirurgia e por toda a recuperação, com a maior confiança de que ia ficar sem dores e, finalmente, direitinha (a questão estética da coluna torta sempre me incomodou... muito até!)

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Antes de pensar em cirurgia - descoberta da escoliose, colete, etc.

Quando descobri a minha escoliose tinha 12 anos. O meu pai notou, quando me vestia, um ligeiro desvio na coluna e decidimos pedir à médica de família para marcar uma consulta com um especialista. Na altura tirei raio-x e o médico mediu a curvatura, que estava nos 14 graus. Lembro-me que a minha mãe ficou bastante preocupada e perguntou ao médico o que podíamos fazer (fisioterapia, hidroginástica, etc), mas o médico desvalorizou, bastante até, a situação, dizendo que o desvio não era grave e que "a menina não é nenhuma velha". Ainda hoje penso que se tivesse feito alguma coisa nessa altura talvez a curvatura nunca tivesse piorado tanto.
Ao longo dos anos a escoliose foi agravando e fui procurando novos médicos que nos aconselhavam. Falei com imensos ortopedistas, osteopatas, procurei técnicas de medicina alternativa que prometiam mundos e fundos. Fiz pilates para fortalecer a coluna e cheguei a fazer natação (pouco tempo, confesso, porque sempre detestei). Deixei até de praticar danças de salão (que amava) por recomendação de um dos médicos. Mas a curvatura ia sempre agravando.
Nunca entendi bem porque tinha ficado com a coluna torta. Afinal, nunca fui uma miúda sedentária, não me sentava torta nas aulas, não usava a mochila só num ombro (como muitos colegas usavam). Mas os médicos explicavam que a escoliose era idiopática, o que significava que não se conhecia a origem, que podia acontecer a qualquer pessoa independentemente do estilo de vida. Basicamente, com o crescimento, a coluna foi entortando para o lado, em vez de crescer direitinha com o resto do corpo.
Com 14 anos a minha curvatura estava nos 35 graus e um médico prescreveu-me o uso de um colete de Boston. É um colete de uma fibra plástica que foi feito à medida do meu corpo (com moldes de gesso) e que serviria para endireitar a coluna. O colete era rígido, com fivelas e era suposto ser usado por baixo da roupa 23 horas por dia (basicamente, o dia todo, menos a hora do banho). Eu tinha de usar o colete na escola, em casa, a dormir... sempre. E aquilo era a coisa mais desconfortável e medieval que alguma vez pensei usar. Parava-me a circulação das pernas quando estava sentada nas aulas, magoava-me imenso (porque estava a fazer pressão nos ossos todos para os manter direitos). Tudo isto para justificar que parei de usar aquela "coisa" passados uns longos dois meses de agonia e vergonha. Desisti!